Zé Coco do Riachão
Minha Viola e Eu (2002)
Cineasta/produtor: Waldir Pina
"Minha Viola e Eu, Zé Coco do Riachão" (documentário, 35mm, 15’, 2002, DF). Direção: Waldir Pina.
Vida e obra do violeiro e rabequeiro mineiro Zé Coco do Riachão.
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Eu e minha viola - Zé Coco do Riachão, um vídeo realizado pelo cineasta Waldir de Pina em homenagem a trajetória de um genial violeiro, rabequeiro e luthier. O filme apresenta uma breve narrativa refletindo sobre este músico nascido no norte de Minas, em Riachão, localidade próxima de Montes Claros. Um belo e tocante depoimento com a própria voz do artista e sua viola ponteada, onde nos é revelado com grande sensibilidade e fotografia de uma luz encantadora, todo contexto da vida rural de um Brasil que hoje é quase apenas uma memória distante. Mostra aqueles quintais com galinhas ciscando soltas e as dezenas de árvores frutíferas que a gente subia pra pegar jabuticaba, pitanga, goiaba, manga e caju. O arroz plantado em casa e descascado no pilão. Os ribeirões de águas claras e transparentes, para os banhos alegres da molecada. Ô saudade! O gemido dolente dos carros de boi e alguns dos segredos de sua construção. O trabalho artesanal da cerâmica e da cestaria de taquara. Os mutirões pra plantio e pra construção de casas, as festas comunitárias e a economia solidária que resistem ainda hoje na tradição das Folias por todo Brasil. Dá pra dizer que a gente era feliz e não sabia?
Zé coco conta no filme que nasceu no dia 1 de janeiro, de noite, no momento em que a casa de seus pais foi visitada por uma Folia do Divino. Segundo ele esse acontecimento foi determinante para que a partir dos oito anos e pelo resto de sua vida tenha se dedicado a tocar viola e participar desta celebração tão típica de nossas raízes caipiras - a tradição da Folia que remonta à idade média no mundo ibérico, tendo chegado entre nós no século XVI, segundo os historiadores, quando foi declarada uma festa herege pela Igreja da Inquisição em Portugal.
Darcy Ribeiro em sua obra O Povo Brasileiro, destaca na formação do Brasil esta importante matriz geradora de nossa cultura - o mundo caipira, herança dos bandeirantes em suas andanças pelo sertão em busca do ouro e de seu encontro com a nossa outra matriz étnica - as sociedades indígenas. Hoje que devido ao desencanto com a idéia de progresso que nos venderam, somos instigados a uma avaliação desta triste civilização mercantilista e predadora, podemos ter um outro olhar, menos depreciativo e preconceituoso para o contexto do homem do campo, do mundo rural. Nossos avós, parentes e alunos que vieram deste meio devem ser acolhidos e compreendidos como também tendo uma cultura genuína de muito valor apesar de sua pouca escolaridade ou de sua linguagem e sotaque característicos. São pessoas que tem uma experiência de vida extremamente diversificada e valiosa, afinal produzem o nosso alimento. Refletir com uma turma a respeito deste belo filme pode ser uma rara oportunidade de fazer esta necessária reavaliação e um excelente recurso didático, para alguns até mesmo terapêutico.
Além de músico, o Zé Côco teve diversas profissões, como costumava acontecer entre nossos antepassados da roça e sabia construir carro de boi, porteiras, engenho de cana, roda d’água e todos esses artefatos de madeira de lei tão necessários à vida nas fazendas e lugarejos do interior. Isso sem nunca ter perdido o talento para a poesia e para a manifestação da beleza, o que pode ser percebido na forma dos instrumentos que construía, com entalhes de madeira e desenho primoroso.
Texto por Romulo Andrade:
www.overmundo.com.br/overblog/eu-e-minha-viola-ze-coco-do-riachao
pintoandrade.multiply.com/
Mais informações:
http://vimeo.com/5844670
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