Ricardo Nunes Pereira
Entrevista com músico Ricardo Nunes Pereira (1978)
Gravação: Kilza Setti
Entrevista com músico Ricardo Nunes Pereira e participação da esposa:
Ricardo fala sobre o violino do Jovino Leite, que Kilza Setti levou para ele ver; acha que não foi feito pelo Zé do Céu, mas que foi feito na Barra Seca . Comenta sobre o formato do violino e da parte do violino onde se engancham as cordas - ‘pega-corda’ - e passa breu no arco para que o violino possa ‘falar’. A mulher chama o instrumento de rabeca, e ele, de violino.Conferiru a afinação e, sem uso de diapasão, diz que está certa: dó-sol-ré-lá, (como viola da orquestra). Diz que as cordas que usou são de cavaquinho. Mostra a afinação das duas rabecas: lá-ré-sol-dó. Toca uma moda que diz ser de batepé. Esclarece que violino e rabeca são a mesma coisa, mas que o povo local chamava de rabeca e os de fora, de violino. Conta que aprendeu a afinar com o pai, que tocava um pouco. Usa cordas de cavaquinho, mas diz que as de violino são melhores –‘o instrumento fala melhor’ – mas custam mais caro. Comenta sobre a técnica do Juvenal Felix dos Santos de ferver a crina do arco: ela fica mais macia, mas em sua opinião,não é necessário. Explica que a afinação é feita de acordo com o conjunto [um instrumento dá a afinação para os outros]; por isso, para tocar sozinho não importa a altura referencial, embora não se possa esticar demais a corda da rabeca - mostra qual é o limite. Toca o Rosário de Maria e muda a afinação até chegar exatamente à do diapasão universal, e mostra-se satisfeito com o som obtido. Explica como reconhece quando a afinação está boa através da descrição da qualidade do som, ou seja, como o som ‘sai da rabeca’. Toca gabiroba,do repertório profano e Bendito, do repertório sagrado mas reclama da falta de outros instrumentos. Diz que não sabe se vai sair na Romaria. Conta que fazia viola, mas parou porque era difícil vendê-las; explica que não é fácil colocar os ‘pontos’ [refere-se aos trastes do instrumento], porque não é seu instrumento, mas diz que para quem vai pendurar na parede como enfeite, não tem importância... Enquanto fala sobre a técnica de tocar, ‘ponteando’ com a mão esquerda,vai tocando a cana-verde, a tonta, o recortado, e a conhecida ‘Tava na peneira, oi..’. Fala do irmão Manuel, que toca viola, mas não tem o instrumento; e de Altivo Salomão, que comprou uma viola. Toca moda de São Gonçalo, depois cateretê. Explica e demonstra que o violino ‘canta a melodia’, `dá o ritmo´ e `sapateia´. Fala da origem das músicas, inventadas pelos antigos e explica o significado da palavra ‘função’: sinônimo de baile, xiba. Diz que, hoje em dia, as pessoas já não se interessam tanto, gostam de cinema, festa na cidade. Fala sobre seu processo de construção, sem uso de moldes; mostra as ferramentas e explica como as usa.
Fonte: Kilza Setti
Mais informações:
http://www.memoriacaicara.com.br
Indice = 211
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