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Marimbondo Chapéu
Construindo e tocando rabeca (2009)
Uma das maiores referências da cultura popular do norte das Minas Gerais, Marimbondo Chapéu, menino pobre nascido em Guaraciama, mudou-se ainda pequenino para Montes Claros, a poucos quilômetros da casa do lendário Zé Coco do Riachão, com quem aprendeu a fazer rabecas. Hoje, aos 28 de idade, viaja pelo país promovendo oficinas para futuros luthiers*, e também tocando o instrumento.
A família de Ivanildo da Silva, o Marimbondo Chapéu, apelido que ganhou do cantor, compositor e pesquisador Téo Azevedo, é composta de artesãos, vivendo da venda dos pequenos objetos que produz, como chaveiros e enfeites para estantes. Ele herdou esse gosto, mas, bem mais apurado: a arte de fazer instrumentos musicais.
— Comecei bem criança a fabricar umas violinhas pequenininhas, coisa de menino mesmo. Até que, aos oito anos de idade, conheci o mestre 'seu' Zé Coco, e ele me disse: 'Já que você leva jeito, por que não faz um instrumento grande?', e me ensinou a fazer rabeca — lembra Marimbondo.
— 'Seu' Zé Coco era um autodidata, faleceu em 1998, um artista nato, sensacional, que no Brasil nem sempre é valorizado, as vezes nem conhecido, mas que na Alemanha é considerado como 'Beethoven do sertão'. Fui fazer um estágio com ele, que acabou gostando de mim, até porque eu já tinha o jeito de trabalhar, e foi me ajudando em tudo que sei até hoje — confessa.
A distância que separava as residências do então menino Ivanildo e Zé Coco do Riachão era de aproximadamente três quilômetros, e por facilidade de acesso 'a pé', passou a frequentar sua residência todos os dias.
— Fomos na sua casa pela primeira vez, eu com meu pai, porque gostava muito de ouvir suas músicas tocando no rádio, isso há 20 anos. Como nos recebeu muito bem, não saí mais de lá, e assim fui aprendendo a fabricar viola, rabeca e cavaquinho, e tudo mais que ele queria me ensinar. Aprendi com ele, por exemplo, a fazer som de folia de reis. Foi durante o tempo ao seu lado que aprendi a gostar das folias — conta Marimbondo, que aprendeu a tocar 'de ouvido'.
— Depois conheci o Téo Azevedo, Jackson Antunes, Sinval da Gameleira, e muitos outros amigos, e fui aprendendo mais coisas para minha carreira com cada um deles — declara com alegria.
Há dez anos Marimbondo Chapéu iniciou sua carreira musical pelas mãos de Téo Azevedo.
— Téo me convidou para ir com ele para São Paulo. Lá, conheci fabricantes de instrumentos, a música da região, mostrei meu trabalho, fiz shows, e consegui gravar meu primeiro disco, que foi um tributo ao seu Zé Coco. O disco tem uma poesia minha e Tião do Carro, e também do Jackson Antunes. O segundo saiu em 2006 só com músicas bonitas, o 'Antologia de músicas caipiras do norte de Minas' — fala.
Luthier e músico por prazer
Somado ao grande prazer no ofício de luthier, Marimbondo usa esse talento para garantir o seu sustento, como uma fonte mais segura de sobrevivência do que sua outra alegria: a música.
— Hoje em dia, com essas músicas que estão aparecendo aí na mídia, eu acho que as rabecas estão me valendo mais que os shows. Porque querem contratar somente esses que chamam de 'artistas que fazem sucesso' para 50 mil pessoas, se não atingir esse nível, não é um show, é sim uma apresentação. Só que não temos como atingir isso sem boa divulgação — comenta.
— Mas continuo insistente fazendo meus 'showsinhos' aí pela vida, e tenho um pelo menos duas ou três vezes por mês. Faço shows com Téo Azevedo, Jackson Antunes e sozinho também, e vou vivendo. Entretanto, o que mais faço é fabricar instrumentos. Além de rabecas, que é o meu forte, estou fazendo muita viola, violão, cavaquinho, enfim, faço de tudo. Já para tocar, uso a rabeca e às vezes a viola também — acrescenta.
— Gosto de tocar 'aquela' música mais regional, o que aprendi com o pessoal que fez parte da minha vida até agora, porque nós que gostamos de 'raiz', temos que guardar isso para sempre. É o coco, o calango, o forró pé de serrá, o lundu, a folia de reis, catira, cantigas de rodas e outros, tudo isso que chamo de regional — continua.
Marimbondo Chapéu tem feito shows em São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Brasília, Goiânia, Porto Alegre, Vitória, além de Belo Horizonte e outras cidades de Minas. E está com um convite para ir se apresentar na Europa.
— Fomos convidados, o Téo, que está vendo tudo, para ir fazer shows na França, estamos aguardando para poder fazer isso. Gostaria de realizar meu trabalho também fora do Brasil, porque lá eles gostam muito da nossa música — diz.
Em toda parte que Marimbondo vai se apresentar, leva seu ofício de luthier e descobriu que em toda parte do país tem gente querendo aprender fazer instrumentos musicais.
— Com a madeira, as cordas, um facão, um estilete, serrote e uma furadeira, faço uma rabeca até debaixo de um pé de manga (risos). Por isso, agora em toda cidade que vou tocar, consigo um local para realizar uma oficina. Eu mesmo monto e procuro um jornal para divulgar o trabalho de ensinar uma pessoa fabricar seu próprio instrumento, ou quem quer aprender a tocar, ou mesmo aquele que quer aprender para fazer disso o seu ganha pão — conta.
— As oficinas duram de 15 a 20 dias, que é tempo suficiente para o aluno pegar sua própria madeira, as cordas, construír seu instrumento, e levar para casa com orgulho, aquilo que conseguiu fazer. E normalmente eles conseguem aprender tranquilamente. Tenho conseguido fazer o show e a oficina juntos, mas quando não tem show, faço só a oficina — acrescenta.
— Além disso, faço rabecas por encomenda e também levo algumas para vender em meus shows, e vende bem mesmo (risos). E não só a rabeca, mas também os outros instrumentos de cordas. Minha família é gente de baixa renda. Viemos da roça para a cidade, ficamos aqui, e estamos batalhando até hoje para sobreviver. E vamos fazendo isso cantando, vendendo uns artesanatos e umas rabequinhas. E quando a coisa aperta, faço muitas e vendo mais baratas, tudo para poder comer e pagar as contas — continua.
Marimbondo tem planos de gravar um novo disco, porém, ainda não tem condições para isso.
— Téo produziu meus dois trabalhos, eu não gastei um centavo, até porque não tenho condição financeira. É muito dinheiro para se gravar um disco. Até procurei patrocínio, mas é difícil encontrar alguém disposto a isso. Se hoje eu tivesse um patrocinador para o meu trabalho, seria maravilhoso, e poderia ver uma obra minha lançada mais uma vez pelo Brasil. Mas vamos devagar, lutando — comenta, acrescentando tem projetos para um novo cd.
Fonte: Rosa Minine, A Nova Democracia
Mais informações:
http://www.anovademocracia.com.br/no-58/2440-construindo-e-tocando-rabeca
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