António Pinto Alves
Foto: Maria Emiliana Silva
António Alves: tocador de rabeca (2011)
António Pinto Alves, mais conhecido localmente por Toninho Alves ou Alves das Boscras, nasceu a 5 de Janeiro de 1931, no lugar de Boscras, freguesia de Ovil, concelho de Baião, localidade onde ainda reside. Os seus pais foram José Pinto Alves e Maria Adelaide de Jesus. Pastor desde os 12 anos e agricultor, gosta de apresentar-se como “lavrador das Boscras” (entr. Alves 2010 a.).
Apesar de descender de uma família de tocadores de rabeca e violão, aprendeu sozinho de ouvido os instrumentos que veio a tocar, com excepção da rabeca chuleira, que aprendeu com o rabequista João Barbosa e do violino e do “órgão” que exigiram lições particulares e o recurso a métodos com notação musical.
O seu tio-avô, Joaquim Mendes (família materna), de Travanca do Monte, fora rabequista. O seu pai “também [...] tocou violão no tempo dele”, ou seja, tocou violão quando ainda era jovem, razão pela qual Toninho Alves não se recorda de o ouvir tocar (Ibid. 2011). O gosto pela música levou José Pinto Alves a oferecer um cavaquinho ao seu filho António. Assim, Toninho Alves recebeu o seu primeiro instrumento musical por volta dos onze ou doze anos, e aprendeu a tocá-lo a “ver e ouvir os seus vizinhos tocar” (Ibid. 2010).
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No final da década de 40 do séc. XX, com cerca de 17 anos de idade, adquiriu uma rabeca ao tocador Mendes, de Travanca do Monte: “Comprei a rabeca, mas ela já era usada ... comprei-a a um homem, também velhote, que a tocou e depois já ninguém sabia tocar nela e vendeu-ma.”(Ibid.)
O processo de aprendizagem da rabeca decorreu ao longo de pelo menos dois anos. Nesse processo contou com os ensinamentos do rabequista João Barbosa (de quem falarei adiante) e com a experiência adquirida, em conjunto com outros músicos, a quem chama “colegas” e em “convívios” privados (Ibid.). Toninho Alves não consegue precisar o tempo exacto, durante o qual decorreu essa aprendizagem. Se numa entrevista sustentou que passados dois anos surgiu a primeira actuação em público, na terceira entrevista alargou esse período para cerca de cinco anos.
Essa primeira actuação realizou-se num divertimento de Carnaval, em Ovil, no lugar de Queimada, confrontante com o lugar das Boscras onde Toninho Alves reside. Toninho Alves descreve assim esse momento da sua vida:
“Fui tocar porque eles me convidaram para ir lá tocar, lá a rapaziada pediu-me para eu tocar para eles dançarem. ... Eu já tocava numa brincadeira, já tocava em convívio, já tocava para se dançar e, dessa vez, fui convidado. Comecei a treinar e toquei lá uma chulada no meu lugar. Os de fora começaram a ouvir e convidaram-me para ir tocar ao lugar deles também...” (entr. Alves 2011).
Fonte: SILVA, Maria Emiliana. A rabeca chuleira: etnografias, contextos e tocadores. Dissertação de mestrado, Aveiro: Universidade de Aveiro, Departamento de Comunicação e Arte, p.64-65, 2011.
Mais informações:
http://ria.ua.pt/handle/10773/7560
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